Preocupa aumento de suicídio entre Policiais

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Segundo o Anuário de Segurança Pública, número de policiais que tiraram a própria vida em 2018 foi mais de três vezes maior que o de mortes em serviço registradas no ano.

 

O Setembro Amarelo é dedicado à prevenção do suicídio, que anualmente vitima cerca de 800 mil pessoas ao redor do mundo, conforme estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

As campanhas de conscientização abarcam toda a sociedade, mas uma categoria parece estar à margem das atenções: os policiais militares. Os perigos cotidianos da profissão, aliados à recusa em procurar auxílio e às pressões por parte da sociedade ampliam os fatores de risco psicológico e psiquiátrico para os servidores da corporação.

No último ano, sete agentes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), entre membros da ativa e da reserva, tiraram as próprias vidas. O número representa um crescimento de 75% em relação a 2017, quando dois policiais recorreram ao autoextermínio.

O índice de suicídios é mais de três vezes maior que as mortes de PMs em serviço registradas, cujos registros apontam que dois militares foram mortos em operações.

As informações são do 13º Anuário de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) na última semana. O estudo se baseia em informações divulgadas pelas Secretarias de Segurança Pública dos 26 estados e do Distrito Federal.

Por muito pouco o Sargento Oliveira* não está nas estatísticas.

“Fui pedir auxílio no momento em que me dei conta de que precisava”, relata o policial.

O diagnóstico precoce permitiu que o tratamento — iniciado no ano passado e em vigor até hoje — fosse realizado na rede credenciada junto à corporação, sem a necessidade de afastamento do serviço. Acolhido pelo Centro de Promoção de Qualidade de Vida (CPQV), por meio do Centro de Assistência Social da Polícia Militar candanga, Oliveira teve o porte de arma suspenso e foi encaminhado ao tratamento especializado.

Material bélico

Comandante da central de ajuda, o Major Rodrigo Araújo explica que o material bélico aumenta as chances de autoextermínio entre os agentes, a exemplo do que acontece na comunidade como um todo. “Se a pessoa tem um fator de risco identificado e tem um instrumento de alta letalidade, o risco aumenta em 500%”, explica. Por isso, a primeira atitude dos especialistas psicológicos da corporação é encaminhar um pedido à Junta Médica da PM para suspender a autorização do policial andar armado.

Araújo comenta que, além de problemas relacionados a trabalho, família, estresse e condições financeiras, um alto índice de policiais com dependência química procura ajuda nas salas do Centro Médico da Polícia Militar, no Setor Policial Sul. E é este o caso de um colega de Oliveira. “Ele trabalhava comigo. Teve problemas com bebida, depois com o trabalho, aí passou a ter desgaste na relação familiar. Um dia, ele foi para uma chácara, tomou veneno de rato e morreu”, relata o agente.

Com parcos recursos, a solução para o CPQV foi buscar parceiros na rede privada para atender aos casos mentais e emocionais dos agentes.

“A PM dá conta de tudo”

Atualmente, a corporação conta com três clínicas e 23 psiquiatras, além de 33 centros de psicoterapia, duas instituições para internação e três hospitais-dia (dedicados a casos intermediários, sem necessidade de internação).

Em novembro de 2018, a Polícia Militar do DF lançou o Programa de Valorização da Vida. Segundo o projeto, policiais com 10 anos ou mais de farda devem passar por uma bateria de exames psicológicos.

Além disso, há o Programa Sentinela, em parceira com a ala religiosa da corporação, pelo qual agentes são capacitados a identificar comportamentos perigosos dos colegas e aconselhar ou relatar ao comandante direto possíveis riscos de suicídio.

A pressão sobre os policiais militares, conforme os desabafos de Araújo e Oliveira, são o desgaste com a comunidade, o perigo de determinadas operações, as condições precárias de trabalho e a desvalorização do agente militar. O principal motivo, porém, é a falta de apoio jurídico-legal às funções da PM.

“Se a gente for ver na Constituição, qual é a atribuição da Polícia Militar? É o que ninguém faz. A Polícia Militar dá conta de tudo”, comenta Araújo.

De fato, a descrição das atividades das PMs na Carta Magna brasileira é geral e abrangente. O parágrafo quinto do artigo 144 da Constituição de 1988 afirma que cabe à corporação militar “a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”.

Além disso, há agravantes inerentes à função. “O PM é sempre o primeiro a ter contato com a escória”, comenta Oliveira.

“Somos treinados pra suportar esse tipo de coisa, mas é difícil”, declara o policial.

Mas não é apenas a rua que castiga. Nos últimos meses, a corporação se mostrou insatisfeita com a Secretaria de Segurança Pública. Então comandante-geral da PM, Sheyla Sampaio foi exonerada pelo governador, e um nome foi escolhido à revelia da aprovação da força de segurança.

“A gente vê os grupos desmotivados. Não tem apoio à Polícia Militar, só crítica, só cobrança”, desabafa o Sargento Oliveira.

Alinhada à campanha de conscientização, a PM promoverá eventos para a corporação. Na sexta-feira (20), Major Araújo dará palestra para cerca de 300 policiais, incluindo comandantes e subcomandantes, no Comando de Policiamento Regional Sul. O Sargento Oliveira demonstra apoio ao trabalho do CPQV, que, segundo ele, foi crucial no tratamento psiquiátrico.

“A gente tem uma prevenção muito boa, eles são ótimos. É muito importante tê-los na corporação”, comemora o PM.

*Nome e patente fictícios. JBr

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