Crimes cibernéticos dobram durante a pandemia

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Por Maurício Nogueira e Josiel Ferreira

 

Os crimes cometidos mais comuns que chegam à Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos, da Polícia Civil do Distrito Federal, têm como campeão das ocorrências as fraudes pelo WhatsApp. Durante a pandemia os números de registros dobraram 

 

A informação foi obtida em entrevista exclusiva com o titular da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Dr. Giancarlos Zuliani, no complexo da Polícia Civil Dos Distrito Federal na região do Sudoeste, nesta segunda-feira (3). Segundo ele, esse tipo de crime está liderando o hanking.

Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Dr. Giancarlos Zuliani

“A gente percebe o seguinte. As pessoas estão recebendo ligações de criminosos. Inventam uma estória mirabolante, que vai desde um anúncio que a pessoa fez na OLX e é para confirmar aquele anúncio, um programa de governo, ou uma coisa do banco e diz que a pessoa vai receber um código no celular com seis dígitos e que essa pessoa tem que passar esse código para o criminoso, através de ligação telefônica. A partir daí o crimoso captura o WhatsApp dela e sai pedindo empréstimo para todos do círculo de amizade daquela pessoa. Esse aí é o campeão.” Criminosos têm usado a plataforma da OLX para obter o telefone do cliente e tem seu WhatsApp clonado.

Nem médicos escapam dos golpistas

Zuliani disse que as vítimas pertencem a diversas classes sociais e profissões. Ele contou que na semana retrasada criminosos aplicaram golpe em um grupo de médicos. Os bandidos clonaram o WhatsApp e em seguida procuraram parentes e amigos se passando pela primeira vítima e mandaram mensagens.

Golpes do WhatsApp

“’Estou precisando fazer uma cirurgia, estou precisando que você me pague uma contra-urgência’ (continha uma delas).  Algumas pessoas (integrantes da agenda de telefone do celular) chegaram a pagar conta de R$ 5 mil, de R$ 20 mil. Ou seja, eu diria que esses golpes de WhatsApp estão bombando, infelizmente”.

Essa ocorrência dos médicos foi a mais recente. Eles conseguiram por meio do acesso a um cadastro de médicos, esses dados. Inclusive não são difíceis de obter, há arquivos do tipo à venda na rua.

Zuliani explica como foi o modus operandi dos cibercriminosos. “Pegaram a fotografia do médico. Criaram outra conta de WhatsApp com a mesma imagem. E começaram a ligar para outros médicos falando que era outro número dele,que precisava de um empréstimo porque tinha que pagar uma conta com urgência. E muita gente acreditou. A estória mudou um pouco, da OLX para o médico, daqui a pouco eles inventam outra.”

Em segundo lugar, de acordo com Zuliani, outra modalidade de golpe praticado é o que utiliza sites falsos de comércio eletrônico. “Temos sites de leilão, de mercadoria. Sites vendendo produtos que não são entregues. Esses estão acontecendo com bastante frequência.”

Além dos sites falsos de leilão. O delegado informa que vítimas já chegaram a perder mais de R$ 200 mil em ofertas de automóveis que não existem. “A pessoa entra em um leilão virtual, dá os lances, depois concluem o pagamento e não recebem o produto.”

Antigamente, os criminosos criavam sites com logo e marca parecidos. No entanto, no momento o que se vê é que os criminosos criam sites com tudo novo. E a oferta de produtos é muito barata, como isca.

As vítimas compram, pagam e não recebem os produtos. A dica é verificar a idade da criação daquele site. É uma informação pública. Tem um site que se chama Who is (Quem é, em inglês). Segundo Zuliani, é possível abrir esse site e ao fazer a pesquisa sobre o site onde foi feita a compra, é bem prático conferir a data e mês de criação da página da internet.

Quando sites são utilizados por criminosos para aplicar golpes, geralmente, tem data recente da criação, mês passado ou semana passada. “Ninguém cria um site em 2017 para cometer fraude em 2020. Só a idade do site já te denuncia. A gente não tem visto site falso de marcas conhecidas”, especifica o delegado.

Pandemia

Esses golpes pelo WhatsApp e o comércio eletrônico de sites falsos tiveram grande crescimento de casos registrados durante a pandemia. “Os cidadãos estão em casa, estão comprando pela internet, se relacionam através de redes sociais. E o WhatsApp está sendo usado para o convívio das pessoas e sequestrado, capturado para fazer essas fraudes. Esses crimes é que estão com alto nível aqui no Distrito Federal”, ressaltou o delegado da DRCC.

Do presídio 

Já os presidiários, em número elevado, usam linhas para aplicar golpes até porque tem o dia inteiro para fazer isso. Os criminosos utilizam sempre terceiros para receber a importância desviada para conta desses terceiros e repassam para os presidiários. “É uma organização criminosa que faz isso. Mas a OLX é desses argumentos para conseguir esse código. Existem muitos outros.”

O estelionato digital disparou durante a pandemia. Esse golpe da OLX é classificado como estelionato e sites falsos. Veja abaixo os dados no gráfico:

O crime de estelionato abrange os sites falsos, a clonagem, segundo Zuliani. E durante a pandemia dobraram os registros desse tipo de golpes. “Esses crimes, no ano passado, tinham poucas ocorrências, agora, passamos a cinco ou dez por semana.”

“As (essas ocorrências acima) que chegam ao nosso conhecimento na DRCC, sem contar as pessoas que não acionam a polícia. Com certeza mais do que dobrou a quantidades de registros de estelionato. Chega a 23 ocorrências porque as pessoas vão até a delegacia mais próximas de suas casas para registrar. E alguns casos as pessoas vem até aqui. Para ter esse número exato eu precisaria fazer uma pesquisa para dar o número mais preciso”, esclareceu Zuliani.

Covid-19

Outro tipo de golpe utiliza o Programa de Covid-19, com a ligação confirmando o sintoma de Covid-19. Marginais se passando por funcionários de bancos. “Olha, eu quero confirmar uma transação no seu cartão, para a vítima dizer que não existe (não reconhece). ‘Então vamos mandar um número para confirmar o cancelamento dessa transação’, afirma o criminoso. Ou seja, a estória vai da criatividade do criminoso. A OLX é um deles, mas não representa um terço das estórias e tem para tudo quanto é lado.”

No caso dos crimes realizados no âmbito do Auxílio Emergencial, detalha o delegado, como se trata da Caixa Econômica Federal (CEF), a investigação do golpe usando o aplicativo da Caixa, aí, é da alçada é da Polícia Federal.

Golpe Auxílio Emergencial

“Muita gente recebe uma ligação dizendo que se está fazendo uma checagem do Covid e no final para avaliar as informações é mandado um código que é do WhatsApp e ele captura o seu WhatsApp. O pano de fundo é o Auxílio Federal, mas não tem nada a ver com o Governo Federal. Essa ocorrência vem para cá. Agora, se por exemplo, eu baixar o aplicativo para fazer uma conta falsa para receber dinheiro, aí vai para a Polícia Federal.”

Questionado sobre a segurança dos sites de vendas, o delegado da DRCC, afirmou que os sites são seguros no sentido de não haver registros de invasão, furtos de credenciais, ou de informações do site.

“Agora, o que acontece é que a OLX é como se fosse um anúncio de jornal digital. Antigamente, você via o anúncio em jornal e ligava para entrar em contato com quem está vendendo o produto. A OLX é assim, mas digital. Para a empresa, é difícil ela coibir os golpes, por causa do formato que ela tem”, acentuou o delegado da DRCC.

No caso do Mercado Livre, o funcionamento é de outra maneira, segundo Zuliani. O cliente que quiser pode tirar uma dúvida e entrar em contato com quem está vendendo, mas o pagamento vai para o Mercado Livre.

A empresa dá ordem para a pessoa que está vendendo enviar o objeto e depois quem compra paga. É um sistema de funcionamento que é mais difícil de fazer fraude. A OLX ela te coloca em contato com o vendedor.

“É um formato que é mais suscetível de fraude. Eu não diria que a culpa é da empresa, mas o formato que ela utiliza leva à possibilidade de fraude. A partir do momento que o criminoso pode entrar em contato com o vendedor ele pode inventar essas estorinhas, aí”, acentuou o delegado.

Verificação em duas etapas

Além da senha que é utilizada em aplicativos é possível reforçar a segurança usando uma segunda senha, que é preciso que não se divulgue a ninguém. Trata-se da segunda etapa de segurança por código que em hipótese alguma pode ser compartilhado. “Se você tiver esse sistema de verificação de senha em duas etapas, o criminoso não consegue capturar o seu aplicativo. Ele não consegue porque ele vai precisar daquele número que só você tem para confirmar a transferência, por exemplo, por telefone. A primeira coisa é instalar essa ferramenta de segurança. Tem para e-mail, no Google é possível ter, Facebook e é o usuário que acessa.”

Exemplo de verificação senha dupla

Com isso obtém-se mais segurança ao usar o aplicativo. Mais uma dica é não passar informações. Se a alguém pedir um número que ela recebeu pelo SMS você não deve passar. E quando o cidadão for ajudar um parente tem que manter o contado em outra linha para confirmar aquela situação.

“Eu sou seu irmão, estou aqui na estrada, o pneu furou, estragou a suspensão, preciso de cinco mil para depositar na conta de um cara, que é lá de São Paulo. Você está em Goiás e como é que você depositar em uma conta em São Paulo. A gente tem que desconfiar de tudo”, reiterou Zuliani.

Mais uma outra dica é conferir quem é o recebedor do dinheiro no comprovante da compra. Se a aquisição é realizada em um estabelecimento comercial o comprovante tem que estar nome desse estabelecimento.

Zuliani cita o caso de um site de leilão que era maravilhoso, bem apresentado. E ao fazer a negociação o interessado na compra depositou o dinheiro do pagamento do lance para “José Pereira da Siva”. “Está errado. É preciso aplicar a verificação em duas etapas e prestar atenção nos sinais que chegam até você.”

Segundo do delegado, há ainda golpes para obter dados e informações de políticos. É clonado o celular de um político e o golpista manda uma mensagem para saber acerca de uma informação sensível para um correligionário da vítima. Essa captura de WhatsApp, por exemplo, não é só para crimes econômicos, já foram pegos casos com fins políticos. No final do ano passado.

Em época de eleições o que surgem são casos de agressão, fake news, mas na pandemia o pessoal quer é cometer o crime econômico.

E quando o golpe já ocorreu, o que fazer?

O delegado da DRCC alerta que quando alguém percebe que caiu em um golpe é recomendável que, imediatamente, faça contato com a Polícia Civil. Inclusive, a polícia tem contato com bancos.

“Já tive situações aqui de recuperar quase R$ 80 mil. A vitima depositou, o bandido conseguiu retirar R$ 5 mil porque era no final do expediente. E a gente de noite segurou o banco. Agora, se você esperar um, dois dias a coisa pulveriza. Eles fazem saques transferências, pagamentos. O ideal é o mais rápido procurar a polícia. O que a gente pode fazer é segurar o dinheiro. Depois que o dinheiro sai da conta, aí, é muito difícil”, pontuou Zuliani.

O delegado explica que os bancos não querem maus clientes na sua base. “A gente trabalha com fraude bancária. Se uma pessoa chegar aqui, 15h30 e depositou R$ 100 mil é difícil o bandido de 15h30 até 16h ele conseguir sacar esses R$ 100 mil. Se essa pessoa chegar dois dias depois ela não vai conseguir. Essa vinda na delegacia tem que ser rápida. Porque a gente entra em contato com o banco e ele bloqueia na hora. Isso aí é rápido. Os criminosos, quando cai o dinheiro na conta eles são rápidos. Em um dia eles sacam essa importância toda. Compram até dólar.”

Zuliani reforçou que as dicas para ter maior segurança em operações via celular é habilitação para ter a verificação em duas etapas, não haver repetição de senhas, porque o criminoso obtém uma senha e vai testando em outros aplicativos para ver se não fora repetida. Também não passar informações por telefone.

Com relação aos resultados de resoluções de casos, a DRCC tem tido bom desempenho. Em muitos casos, as investigações chegam em presidiários.

Ele conta que um presidiário em Goiânia foi responsável por diversos crimes. A situação é difícil conforme Zuliani. “E a gente vai fazer o que, prender um preso? Temos atingido bons resultados, mas para sociedade não sei se é um bom resultado porque ele já estava preso. É muito difícil a gente aqui no DF controlar uma situação de um preso de um estado que está tendo acesso a um celular. E, aí, a coisa continua.

“O grande mentor dos crimes está no presídio”, frisa o delegado. Ele acrescenta que as pessoas que estão fora só emprestam a conta uma vez, tem um exército de pessoas para emprestar as contas, às vezes é localizado um recrutador, mas o mentor está no presídio.

A exploração sexual infanto juvenil também faz parte do uso de fraudes em celular. O delegado informou que há poucas semanas foi preso um admoestador. Há ainda invasão de computares, extorsão, crime contra a honra. No tocante ao que se vê nos dias de hoje, há muito extorsão por foto. O indivíduo conhece uma pessoa em uma rede social. A pessoa manda uma foto nua, também chamado de “nudes”, e a vítima manda uma sua.  “Quando você manda a sua, aí, acabou o amor. E essa pessoa diz ‘eu quero tantos mil, eu já vi que seu pai chama fulano, sua mãe sicrano’. E aí a pessoa procura a gente.”

Exploração sexual infantil – diga não – denuncie

Quanto às fraudes com foco em desvio de dinheiro de estabelecimento bancário são mais sofisticadas. “Já prendemos pessoas, inclusive uma quadrilha que pegou 260 anos de cadeia, somando as penas dos integrantes, por fraude bancária aqui em Brasília.”

A fraude bancária é diferente, acrescenta Zuliani. O criminoso está no Paraná, e não vai atacar lá em São Paulo. Quem cair no sistema deles de infecção sofisticada se torna vítima. Eles conseguem habilitação para entrar na conta bancária pela internet e faz transferência. Ou seja, atacam os correntistas.

Esse tipo de fraude vem em um nível elevado e na pandemia continua. É um crime em que uma pessoa consegue fraudar uma empresa em R$ 500 mil tranquilamente.Lógico que esse dinheiro é pulverizado em diversas contas, mas é mais sofisticada.

“O banco é muito seguro, agora, o cliente pode vacilar. Um cliente recebeu uma ligação e pediu para ele ir ao caixa eletrônico gerar um QR Code, gerou o QR Code, pegou o celular fotografou e mandou para o bandido. Com isso aí, ele entra na conta da pessoa e varre tudo. O sistema do QR Code é seguro, mas eles iludiram a pessoa para passar, e aí é onde o dinheiro vai embora. Nessa que eu estou falando a fraude foi de R$ 500 mil.”

A Polícia Civil do Distrito Federal dispõe de três cartilhas que explicam passo a passo três tipos de golpes com pequenas diferenças.

Confira abaixo:

 

Saiba mais:

https://www.tudooknoticias.com.br/destaque/clonagem-de-conta-no-whatsapp-usando-olx-quase-da-prejuizos-a-anunciante-de-brasilia/

 

Fotos: Divulgação internet

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