Bandeira branca muda velho clichê e barateia a gasolina

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Kleber Ferriche

O Brasil atrapalha o Brasil. Ou pelo menos boa parte dele, representada pelo Estado, que cria mecanismos que dificultam a adoção de novos negócios em formatos mais modernos. A iniciativa privada não quer ser sócia do País; quer ser parceira, e sabe muito bem como fazer isso.

A interferência estatal ultrapassa os limites da razão, ignorando uma verdade mundial: o mercado empreendedor é capaz de se autogerir de forma competitiva, trazendo benefícios ao consumidor. Outro fenômeno é o surgimento de novas alternativas de atendimento para antigas receitas.

Um ótimo exemplo é o Uber, que enfrentou o formato de concessão ou permissão imposto aos taxistas, engessado há décadas pelo Governo e sujeito a negociatas.

Quando surgiu o cinema sonorizado, houve comoção sobre o que aconteceria com os músicos e orquestras que trabalhavam nas salas de exibição. O cinema mudo empregava milhares de profissionais da batuta que animavam as sessões das tardes. Hoje não há músicos nas modernas redes, mas um sistema de som e imagem de alta qualidade. E os músicos continuam suas vidas em outras fronteiras.

Com o mercado de combustíveis acontece o mesmo e pouco mudou desde a instalação do primeiro posto de abastecimento de veículos no País. Em nações modernas, é comum o autoatendimento. Aqui o Brasil que atrapalha o Brasil não permite essa modalidade em postos de gasolina. Além da interferência regulamentar e monopólio estatal, o layout das lojas é sempre o mesmo. As poucas grandes marcas distribuidoras deixaram de lado um estudo mais profundo de negócio e buscam consolidar sua imagem por meio da publicidade.

Existe explicação: as lojas têm sempre o mesmo formato, mudando apenas sua identificação visual, como forma de ocupação territorial e corporativa, que recebe o nome de bandeira. Assim, BR, Ipiranga, AleSat, Raízen, Shell e outras são conhecidas como bandeiras. São fornecedores que exigem que o combustível que chega às bombas seja exclusivamente comprado daquelas marcas.

Os proprietários de postos de bandeira branca, ao contrário, compram o combustível do distribuidor que oferecer maiores vantagens e melhor preço. Esse é um modelo que produz competitividade.

O segredo das bandeiras – grandes distribuidoras – é fácil de entender: imprimem ao consumidor uma imagem de alto controle dos produtos, fácil acesso à informação, excelente atendimento, lojas repletas de conveniências, como se fossem atributos exclusivos delas.

No subterrâneo fomentam a idéia de que o combustível dos postos de bandeira branca oferece risco aos motores, não recebem controle de qualidade ou validade, têm um atendimento despreparado.

Pode ser verdade em alguns casos, mas as ocorrências são também registradas em postos de bandeira de grife.

O mercado não é pequeno para os destemidos independentes que abriram em 2016 mais mil postos de bandeira branca no Brasil, segundo Maria Schneider, presidente do Sindicomb Rio. No Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, praticamente 50% dos postos não são exclusivos das grandes distribuidoras.

O que falta para dar impulso maior às redes regionais de postos é utilizar uma arma que nem as gigantes podem combater: o elemento surpresa. Lição antiga: na adversidade é que encontramos a vantagem.

As redes localizadas podem, sim, ultrapassar as qualidades que as grandes distribuidoras propagam. Elas pasteurizam as redes por uma questão de economia e controle, porque o que adotam no Oiapoque é o mesmo que adotam no Chuí. Letreiro padrão, uniforme padrão, convencimento padrão, atrativos sem apelos regionais. É aí que expõem suas feridas.

Redes regionais podem fazer tudo diferente, ter personalidade própria, criar atendimento de excelência e apelos originais. Profissionais experientes com grandes marcas mundiais poderão definitivamente quebrar paradigmas do século passado e fazer uma releitura do formato e layout das lojas, do atendimento, do comércio de outros produtos e serviços. Mesmo pequenas redes com meia dúzia de postos, instaladas regionalmente, poderão subtrair das grandes distribuidoras muitos consumidores e fidelizá-los.

Em um setor que impõe a rentabilidade pelo volume, dada à restrita margem de lucro e elevado custo operacional, é preciso ousar. A Uber é a maior frota de táxi do mundo sem ter um único veículo e suas lojas estão no bolso do consumidor, em um aparelho celular, que breve poderá solicitar um jatinho executivo em qualquer parte do mundo. Também pelo celular. A telefonia e a TV por assinatura hoje podem ser pré-pagas. Fatos impensáveis no passado recente.

Os postos de combustíveis vão continuar aceitando o formato imposto ao longo de décadas pelas grandes distribuidoras? Ao que parece, a bandeira branca pode ser um indício de que haverá mudanças. Não apenas no preço final ao consumidor, mas no conceito geral, desde que alguém seja capaz de repensar o velho modelo de loja e causar emoção.

Ou a música de Laercio Alves e Max Nunes, dos anos 70, será a trilha sonora do setor por muito tempo, cantada por Dalva de Oliveira: “bandeira branca, amor…”

Fonte: Notibras

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