Coronavírus: Boleiros entre a demissão, redução de salários e a várzea

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Esqueça por alguns instantes os supersalários de ídolos do futebol mundial. Seu filho quer ser jogador de futebol. Então explique para ele como o bolo é fatiado. Em 2018, 7% dos atletas ficaram com R$ 800 milhões; 88% dos profissionais ganharam no máximo R$ 5 mil mensais.

O reflexo da pandemia mundial do novo coronavírus atinge em cheio os jogadores de futebol num baixo patamar. Há uma grande parcela de jogadores, porém, cujos contratos acabam até o final deste mês de abril. Para esses, não existe corte de salários a negociar a partir dali. Nem salário. A perspectiva é de desemprego, ou a várzea. 

O segundo semestre é o período de menor oferta de vagas no futebol, mais abundantes na primeira metade da temporada com a disputa dos estaduais, com mais clubes em ação. Agora, está bem mais difícil um lugar, não ao sol, mas no gramado recebendo em dia, pagando as contas. Sem saber como e, principalmente, quando a crise será resolvida, os clubes interromperam negociações com atletas.

“Com este cenário atual, eu estou bem preocupado. Não tenho nenhuma reserva, e as contas não esperam. No momento, eu e minha família dependemos somente do futebol”, afirma o goleiro Rodrigo Calchi.

Os impedidos

Casado e com dois filhos, Calchi tem contrato até o meio de abril com o Anapolina, de Goiás, e diz ter salários atrasados.

“Ia ficar lá até receber, mas fiquei com medo de fecharem os aeroportos, e resolvemos vir embora.”

O goleiro deixou para trás, também, duas propostas para o restante da temporada: uma de um clube da Série D, com contrato até novembro, e outra da segunda divisão paranaense, com vínculo de três meses.

O atacante Erminio, do Taubaté, da Série A2 de São Paulo, voltou para Camaçari, na Bahia, quando o torneio foi interrompido. Ele tem contrato com a equipe paulista até o dia 30 e nenhuma perspectiva de voltar a vestir a camisa do time na atual competição.

Em sua terra natal, ajuda a mãe e quatro irmãos. Conta com o aluguel de alguns imóveis para fechar as contas, mas teme calotes nos próximos meses:

“Temos essas casas, mas com essa pandemia do coronavírus está complicado”, afirma o atacante, que planejava disputar a Série B ou C do Brasileiro.

Saída pela várzea

A dificuldade em buscar um emprego no segundo semestre não é novidade para o zagueiro Diego Borges, da Portuguesa Santista, equipe da segunda divisão de São Paulo.

“Nunca nos planejamos no futebol, pelo menos nós que temos contratos curtos. Agimos um campeonato por vez”, conta ele.

“Há anos a minha situação é um primeiro semestre com muitas propostas, mas o segundo… só Deus na causa. Esse ano creio que será ainda mais difícil por tudo o que está acontecendo.”

Com um filho de seis anos e a esposa grávida, Diego vê a várzea como uma opção para o resto do ano.

“A gente acerta com um time, e ele paga R$ 250, R$ 300, até R$ 350 por jogo. Com três ou quatro jogos por semana, eu ganho o que um clube me pagaria no segundo semestre”, afirma o zagueiro.

“O bicho (valor pago por partida) é certo. Eu combino de receber antes para não correr risco. Não é só isso que o amador de São Paulo oferece: se você se machuca, dão suporte com fisioterapia, pagam academia, dão chuteira, lanche, material de jogo.

Os torneios amadores em São Paulo, assim como o futebol profissional, foram interrompidos como medida de distanciamento social no início da pandemia.

Medidas do governo não alcançam jogadores

Estudo da consultoria Ernst & Young apresentado no final do ano passado, com base em dados de 2018, apontou que foi pago R$ 1 bilhão em salários a jogadores profissionais naquele ano.

A divisão do bolo é muito desigual:7% dos atletas ficaram com R$ 800 milhões; 88% dos profissionais ganharam no máximo R$ 5 mil mensais.

Nesta semana, o Congresso aprovou medida que destina R$ 600 mensais a pessoas de baixa renda, trabalhadores informais e desempregados por três meses como medida emergencial para minimizar os efeitos da crise econômica causada pela epidemia da Covid-19.

Advogado especializado em direito do trabalho no esporte, Maurício Corrêa da Veiga entende que as ações do Governo Federal não alcançarão os profissionais do futebol.

“Para fazer jus ao auxílio é preciso cumprir alguns requisitos, como não ter recebido mais de R$ 28.559,70 em 2018”, diz ele.

“É um critério ruim para atletas, pois se em 2018 ele jogou por algum clube com salário de R$ 2.200 por mês, não terá direito ao benefício.” Com informações do Globo Esporte.

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