O discurso sempre no improviso, mas as palavras são escolhidas conforme o público. No meio do povo: “Nós vamos vencer essas eleições pelo trabalho do povo. Chegou a hora do povo do Distrito Federal assumir o poder pelas mãos do filho de um nordestino.” Ou no meio dos empresários: “ Vou tratar esses empresariados aqui como advogado dos empresariados, quero resolver e solucionar os problemas do Distrito Federal. ”
Ibaneis gosta de repetir frases como: “Eleição e mineração só depois da apuração.” Práticas de político antigo? Ibaneis garante que não. Ele próprio tem dito também e muitas vezes que é um novato. “Eu sou um outsider da política”, diz. E é verdade. A ligação de Ibaneis com a política do DF é recente.
Em 2012, até então desconhecido do público, o advogado Ibaneis esteve no estúdio da Globo. Logo após, vence as eleições para presidir a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF). Em sua fala, enfatizou: “Queremos cobrar dos governantes, de forma muito independente, posturas firmes na melhoria da vida do brasiliense.”
Ibaneis só reapareceu para o público em agosto deste ano, indicado pelo MDB para concorrer ao governo do DF. Ele estava 46kg mais magro, resultado de uma cirurgia bariátrica. A decisão do partido ocorreu depois que o próprio Ibaneis contratou um instituto de pesquisa indicando, se possível, um novato a chegar ao Buriti. “O MDB tinha condição de fazer aliança que variava da direita até esquerda, esse trabalho todo que poderia ser feito em torno dos partidos em torno de uma união. Além disso, me fornecia um tempo de televisão que era necessário e não me veio com nenhuma cobrança, até pensei que iria receber cobrança.“
Ibaneis declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter um patrimônio R$ 94.100.602,57. O valor equivale a quase seis vezes a soma de tudo que os outros concorrentes ao Palácio do Buriti, declararam ao TSE.
Apesar de ter um comitê no Setor de Indústria, a base do candidato foi a sua própria casa na QI 11 do Lago Sul. Ibaneis admite cuidado com a imagem pessoal, gosta de se apresentar sempre alinhado. “Gerei minha renda toda através do estudo e do trabalho. Não consegui nada na vida que não fosse dessas duas maneiras. Não herdei nada.“
O arranque vertiginoso até o segundo turno começou na parte baixa das pesquisas. Dezenove dias depois de tornar candidato, Ibaneis quase não foi citado pelos eleitores. Para avançar, ele teve que queimar sola de sapato.
As agendas ocupavam o dia inteiro e algumas vezes iam madrugada adentro. Feiras, caminhadas, trios elétricos, apertos de mãos, abraços, resultou na perda de seis kg, na campanha. Teve que cancelar alguns eventos por conta de um problema no olho. Há quinze anos Ibaneis teve uma paralisia facial decorrente de um herpes que vem se tratando desde então. Filho de piauienses levou para as ruas a marca do nordestino, como buchada de bode e dobradinha, que viraram quase uma refeição oficial da campanha. “Para quem me conhece, no meu dia a dia, sabe que não tem nada de anormal. Essa história de comer dobradinha uma coisa que gosto e, inclusive, faço. Então, pra mim é natural. ”
Em um mês e uma semana, Ibaneis ultrapassou todos os adversários. No dia sete de outubro foi o mais votado do primeiro turno. “Eu vou trabalhar vinte dias como nunca. Eu vou trabalhar, vou acordar de madrugada. Eu vou dormir a hora que der pra dormir, mas eu vou levar uma política nova pra essa cidade.”
No segundo turno, outros partidos declararam apoio para Ibaneis e a campanha pelas ruas continuou. No começo da última semana, antes da eleição, no estádio uma multidão cercou o advogado e ficou difícil de aproximar do fenômeno.
“Nunca imaginei isso, esse carinho tá me deixando cada vez mais comovido. Sinto uma emoção muito forte.”
Ibaneis Rocha é brasiliense, nasceu no hospital de base há quarenta e sete anos. É dono de um escritório de advocacia especializada em direito administrativo. A mãe dele trabalhou como auxiliar de enfermagem e o pai, falecido no ano passado, era professor e tem dois filhos do primeiro casamento e espera um outro menino da atual esposa.
Com a campanha já chegando ao fim, Ibaneis decidiu trocar o motorista pelo filho Caio e foi até a escola para buscar o caçula João Pedro e arranjou um tempo para almoçar com a ala jovem da família. “Dinheiro não vale nada. Poder não vale nada, o que vale é você ter uma família sólida com princípios sólidos e com carinho. Então, isso para mim é muito importante.”
Foto: Renato Alves
